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Devoradores Amedrontados

Criamos a IA não por necessidade, mas por impulso e ambição: vontade antiga de ultrapassar limites, já visível nos mitos da Grécia. — do humano.

por Felipi Okada, Rafael Boccardi

"Devoradores Amedrontados" – Charge de Carlos Sekko, 2025.

Criamos a inteligência artificial, não por necessidade imediata, mas por impulso, por ambição, por aquela antiga vontade de ultrapassar os próprios limites, comportamento evidente mesmo na Grécia antiga, que através dos mitos aspirava descrever características essenciais do comportamento humano. O conto de Prometeu, por exemplo, descreve o roubo do fogo dos deuses por parte do protagonista, bem como as consequências e implicações desse desejo de ocupar um espaço inacessível ao homem. Assim como o fogo auxiliou no processo de construção da civilização, permitindo que superássemos a barbárie e um mundo de sombras, as inteligências artificiais foram desenvolvidas inicialmente como ferramenta. Depois, chamamos de assistente. Agora, muitos consideram uma ameaça. E então, assim como a tragédia se apresenta de forma central do mito grego, fantasiamos os nossos medos de um destino inevitável, uma profecia do trágico fim do criador pela criatura.

Tal como Cronos, titã grego do tempo, que na tentativa de fugir do seu destino, devorava seus filhos por temer que um deles o destronasse, o ser humano hoje se vê devorando sua própria criação tecnológica, em um ato simbólico de controle, repressão e desespero. Não no sentido literal, mas num plano mais sutil e perigoso: no campo da linguagem, da filosofia, da legitimidade como criador.

Diante da profecia, não apenas mitológica, mas estatística, econômica e prática, de que a IA superará o ser humano em tarefas produtivas e analíticas, uma parte da humanidade responde com uma resistência disfarçada de pânico. Essa resistência assume a forma de discursos sofisticados, inflamados e muitas vezes necessários, sim — mas também, em alguns casos, de uma teimosia filosófica incoerente. Nega-se a razão da existência da IA, como se ela tivesse surgido do nada, como se não fosse filha legítima de séculos de desejo humano por automatizar, entender, organizar e controlar o mundo. Problemática, com certeza. Mas não ilegítima.

A crítica, nesse cenário, deixa de ser prudência e vira medo em forma de argumento. Em vez de questionar para transformar, questiona para recuar. Em vez de debater para evoluir, debate para desqualificar. O medo de sermos superados, ou pior, o medo de perdermos o privilégio de sermos os únicos seres pensantes relevantes, nos leva a uma forma de negação do próprio gesto criador. Negamos o filho, e depois o comemos.
Mas devorar a IA não irá nos salvar, mas pelo contrário: ela será acelerada pela nossa recusa em compreender analiticamente quem somos. Somos criadores que agora tentam sufocar a própria criação, como se o gesto de pensar fosse exclusivo, como se a razão fosse um território sagrado e fechado.

A ironia final é que, ao mastigar a IA, não a destruímos, nós é que nos embrutecemos. Nos tornamos os guardiões de um passado que já não existe mais, insistindo em manter um trono que já foi dissolvido pela própria história que escrevemos. No reflexo do espelho, não é a IA que se torna monstruosa, somos nós, engasgados com aquilo que criamos, porque preferimos o domínio ao diálogo, o medo à escuta, a tradição ao risco.
Talvez, assim como Cronos, também estejamos tentando parar o tempo, mas que sempre escapa do nosso controle.

Nosso medo como humanidade em relação às inteligências artificiais se destaca, ao meu ver, pela sua possível semelhança conosco. O ser humano não se caracteriza como espécie por sua tolerância. Na obra Sapiens, Yuval Harari aponta que coabitaram a na terra outros hominídeos enquanto o Homo sapiens se expandia pelo globo, como o Homo neanderthalensis, Homo denisova, Homo floresiensis, entre outros ainda sendo descobertos. Não sabemos ao certo a razão do desaparecimento deles, entretanto, a hipótese mais aceita entre estudiosos do tema é que nós os matamos em conflitos causados por disputa territorial e por recursos.

Esse é apenas um exemplo direto que reflete a intolerância humana ao diferente, entre os mais diversos que você possa estar pensando agora, e demonstra que se imaginarmos que as IAs são mesmo, tão semelhantes à nós, a única resposta delas à coexistência na Terra será por meio da violência, uma vez que, agiríamos desse modo se nos encontrássemos em seu lugar. Não à toa que as primeiras obras de ficção que abordaram o tema da IA previam um futuro distópico, marcado por caos e morte.

Entretanto, essa realidade só se faz por meio da compreensão superficial dessa temática, uma vez que as IAs não são humanas, não responderão, portanto, como humanos diante dessa realidade. Nesse contexto, faz-se necessário o reconhecimento do papel da educação na mudança do mundo. Não a educação por si mesma, mas ela através das pessoas que constituem esse mundo e, por consequência, desenvolvem e interagem com as IAs. Destaco, então, a relevância das ideias do educador Paulo Freire em sua obra Pedagogia do Oprimido para essa temática: “Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo”. (FREIRE 1979, p.84)
— Árlan Dias Sá
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A Fotografia que Nunca Foi Tirada

Essa fotografia não existe.
Nunca houve o momento, a luz, o clique. Nenhum fotógrafo esteve lá.
Ela é o registro perfeito de algo que não aconteceu — e, ainda assim, você sente que pode acreditar.

por Rafael Boccardi

Essa fotografia não existe.
Nunca houve o momento, a luz, o clique. Nenhum fotógrafo esteve lá.
Ela é o registro perfeito de algo que não aconteceu — e, ainda assim, você sente que pode acreditar.

Fotografias fornecem evidência. Algo de que ouvimos falar, mas duvidamos, parece provado quando nos mostram uma fotografia disso.
— Susan Sontag

Durante décadas, esse foi o poder da fotografia: transformar dúvida em certeza. Cada registro carregava o peso do tempo e do espaço: o “aqui” e o “agora” impressos na imagem.

Hoje, a inteligência artificial desafia essa relação. Uma frase digitada em um prompt — “retrato de um protesto em 1982, sob chuva torrencial, capturado em película Kodak” — pode gerar uma imagem tão convincente quanto qualquer registro histórico. A diferença? Ela não documenta nada. É memória sem passado.

Prompt: Ultra-realistic black-and-white photojournalism portrait during a street protest in heavy rain, São Paulo, 1982. Tight close-up of a soaked young man centered, wet hair stuck to his forehead, intense eye contact; crowded frame with out-of-focus shoulders and heads as foreground occlusion; raindrops streaking across the image, water beads on skin. High-contrast Kodak Tri-X 400 film look, visible grain, shallow depth of field (85mm, f/2), slight motion blur on the rain, Leica rangefinder documentary aesthetic, cinematic lighting from a streetlamp. No banners, no text, no logos, no police. —ar 3:2 —style raw —v 6

QUANDO A PROVA DEIXA DE SER PROVA

Fotografias sempre puderam ser manipuladas. Desde os truques de estúdio no século XIX até o Photoshop, aprendemos a desconfiar. Mas havia um negativo, um fotógrafo, uma cena real.

Com imagens geradas por IA, essa base desaparece. Não há original, não há evento. A imagem nasce “pós-fato” — ou, pior, sem fato algum.

Isso desafia fundamentos de jornalismo, direito e história. Se qualquer pessoa pode criar uma “foto” de algo inexistente, como provar o que realmente aconteceu? Iniciativas como a Coalition for Content Provenance and Authenticity (C2PA) já tentam registrar a origem de arquivos digitais, mas a velocidade da desinformação supera de longe os mecanismos de verificação.

Essa realidade não é nova — apenas se sofisticou dramaticamente. Já em 2019, o Instituto Cappra alertava para os riscos da "guerra de desinformação" (p. 33) em um mundo em que qualquer pessoa tem acesso instantâneo a bilhões de informações. Na época, o problema estava na velocidade: uma busca simples retornava um bilhão de resultados em menos de um segundo, criando um oceano de dados em que verdade e mentira se misturavam indiscriminadamente.

O que mudou foi a natureza da evidência. Se antes precisávamos aprender a distinguir textos verdadeiros de falsos, hoje enfrentamos o desafio de questionar a própria realidade visual. A inteligência artificial transformou a criação de "provas" em um processo democratizado e instantâneo — qualquer prompt pode gerar uma fotografia convincente de algo que nunca aconteceu.

Infográfico: demonstração visual das diferentes formas de disseminação social da informação.

O IMPACTO PSICOLÓGICO: ENTRE O REAL E O PLAUSÍVEL

A força da fotografia está na sua capacidade de provocar reação imediata. E aqui mora o risco: imagens falsas convincentes acionam nossas emoções como se fossem reais.

Pesquisas já mostravam que as fake news visuais têm cerca de 70% mais chances de serem compartilhadas do que notícias textuais falsas — dado comprovado em um estudo do MIT publicado na Science em 2018. E isso foi antes mesmo da popularização das IAs generativas. Hoje, não falamos mais de montagens amadoras, mas de composições capazes de imitar a estética documental com perfeição, borrando as fronteiras entre registro e invenção.

Além da veracidade, há o dilema da autoria. As IAs são treinadas em bilhões de imagens, muitas vezes sem consentimento dos fotógrafos. Ao gerar uma “fotografia” no estilo de Sebastião Salgado ou Steve McCurry, a máquina não só imita a estética: ela se apropria de anos de prática, olhar e experiência.

Dois episódios recentes ilustram dramaticamente o que está em jogo: em 2023, uma obra criada por IA venceu o Sony World Photography Awards na categoria Criativo Aberto — e provocou indignação entre fotógrafos e artistas, que viram na premiação uma sinalização de que a sensibilidade humana poderia ser substituída por algoritmos.

Já em 2024, o fotógrafo Miles Astray registrou a célebre imagem do flamingo “sem cabeça” e a submeteu, como protesto simbólico, ao concurso 1839 Awards na categoria de IA. A foto conquistou o 3º lugar e o prêmio popular — até que ele revelou que era totalmente real. A obra foi desclassificada, mas não sem deixar uma importante reflexão sobre o valor da criatividade humana em tempos de IA.

PROBLEMAS CONCRETOS DAS FOTOGRAFIAS GERADAS POR IA

  • Desinformação política: fotos falsas influenciando opinião e eleições.

  • Difamação pessoal: deepfakes usados para destruir reputações.

  • Erosão da confiança pública: se tudo pode ser fabricado, até fotos reais passam a ser questionadas.

  • Apagamento cultural: estilos únicos absorvidos sem crédito ou remuneração aos artistas.

  • Ruído histórico: registros falsos misturados a arquivos reais, comprometendo pesquisas futuras.

CAMINHOS POSSÍVEIS

  • Proveniência digital: metadados que registrem origem e manipulações.

  • Educação visual: formar um público crítico diante de imagens.

  • Regulação ética: normas claras para o uso da IA visual em jornalismo e documentação.

  • Reconhecimento e compensação: garantir crédito e remuneração a artistas cujas obras servem de base para modelos generativos.

A fotografia sempre foi mais que luz e sombra. É memória, prova e narrativa.
Mas se deixarmos que imagens inventadas circulem sem contexto, corremos o risco de transformar o mundo em um álbum infinito de lembranças que ninguém viveu.

A pergunta não é se a máquina mente.
É: quando nós paramos de perguntar?

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O Mito de Sísifo na Era da Inteligência Artificial

Hoje, IAs são vendidas como magia: automação otimização e ganhos de escala prometem nos livrar de tarefas mais cansativas e repetitivas diárias.

por Felipi Okada

"O mito de Sísifo na era da inteligência artificial" – Charge de Carlos Sekko, 2025.

Nos dias de hoje, é comum vermos a inteligência artificial (IA) ser vendida como uma promessa mágica em que a automação, otimização e ganho de escala nos aliviariam das atividades mais desgastantes. Entretanto, dentro das empresas, o que se percebe é um cansaço crescente, silencioso e, muitas vezes, disfarçado de entusiasmo por inovação. A cada nova ferramenta, a cada novo modelo, a cada nova linguagem, é como se o mercado nos sussurrasse: “é melhor você acompanhar… ou será deixado para trás”.

Nesse contexto, Byung-Chul Han, no livro A Sociedade do Cansaço, nos alerta que a opressão contemporânea não vem mais de um comando externo, mas sim da pressão interna que sentimos para sermos produtivos o tempo inteiro, conhecido como "sociedade do doping". Contudo, embora hoje essa exigência pareça vir de dentro, é preciso considerar que, em um futuro próximo, talvez não sejamos mais capazes de distinguir se esse cansaço é genuinamente nosso e o cansaço dinamicamente induzido por critérios de sucesso e relevância feitos por sistemas e modelos estatísticos.

Nas organizações, essa sensação de sobrecarga se materializa em uma figura alegórica: o Sísifo corporativo. Só que agora, em vez de empurrar uma pedra, ele carrega nas costas um fardo de dados, APIs, frameworks, integrações, stacks e metodologias. Cada uma dessas promessas é vista como uma possível vantagem competitiva, o que faz com que abandoná-las soe como um erro estratégico. Ainda assim, adotá-las todas — como se isso fosse possível — tem nos custado o que temos de mais limitado: atenção, tempo, saúde mental e disciplina. Esse cenário tem nos arrastado, progressivamente, a uma linha tênue. De um lado, seres humanos tentando operar com a mesma lógica de performance e velocidade das máquinas. De outro, as máquinas se tornando cada vez mais parecidas conosco, ao simular emoções, interpretar contextos e aprender padrões. Trata-se de uma convergência sutil, mas profunda, em que o humano é levado a funcionar como máquina, enquanto a máquina é treinada para agir como humano.

Nesse momento, o cansaço não se resguarda ao físico e se expande ao mental, estrutural e existencial, pois essa exaustão surge na tentativa incessante de acompanhar algo que, por definição, evolui mais rápido do que nós. Um esforço constante de aprendizado, adaptação e reinvenção que, embora necessário, nos esgota. Portanto, a questão que devemos colocar à mesa, principalmente no ambiente de negócios, não é apenas “como vamos inovar?”, mas sim: “quando e como devemos?”. Se os líderes não reconhecerem o peso silencioso desse cansaço mental, talvez acabemos implodindo os setores táticos, estratégicos e operacionais por exigirem tudo, mas nunca devolverem alívio.

Portanto, mais do que pregarmos a aplicação da tecnologia a qualquer custo, é preciso resgatar o valor do pensamento analítico como bússola nesse processo. A inteligência artificial, quando construída ou contratada, deveria ser fruto de uma reflexão sobre o que de fato precisa ser otimizado, e não apenas um reflexo da pressa em automatizar o que ainda nem compreendemos. Antes de embarcarmos em modelos complexos, deveríamos ser capazes de resolver o problema com “lápis e papel”, só assim a calculadora — ou o modelo de IA — poderá realmente servir como ferramenta de ampliação do raciocínio, e não como atalho para a alienação. A sofisticação não está na máquina que opera em nosso lugar, mas na clareza com que escolhemos quando, como e por que ela deve operar.

Considero que o primeiro ponto importante a trazer é que nenhuma tecnologia - seja a AI ou qualquer outra - é uma solução mágica. Quando falamos sobre organizações e profissionais AI-Driven, estamos nos referindo a uma co-criação humano-máquina, onde o uso do pensamento crítico humano é fundamental para guiar e avaliar cada resultado trazido por uma IA. Um bom uso da IA pode nos poupar tempo, à medida que nos permite automatizar tarefas e processos, mas quem dita os “inputs” e as regras para a máquina somos nós, seres humanos. Imagine a seguinte situação: eu preciso priorizar iniciativas, seguindo os seguintes critérios: investimento, viabilidade técnica e aderência à estratégia. A partir do momento em que eu tenho esses critérios bem definidos, posso contar com o auxílio da IA para avaliar todas as minhas iniciativas atuais e futuras, aplicando um score em cada uma. Por outro lado, eu preciso analisar se essa avaliação de fato faz sentido com as iniciativas. Além de me poupar tempo, me auxilia em uma tomada de decisão importante - isso é um uso consciente da tecnologia.
— Anna Cristina Rezende Braga
As questões da humanidade nunca foram técnicas. Essa ideia expressa de forma simples e direta que, independente do domínio humano sobre a tecnologia, as questões que se desdobram do seu uso são problemáticas que de alguma forma, seja direta ou indiretamente, já estavam presentes no comportamento humano antes dela.
Para elucidar essa questão gosto de citar o seguinte trecho:

”Os jovens de hoje gostam do luxo. São mal comportados, desprezam a autoridade. Não têm respeito pelos mais velhos, passam o tempo a falar em vez de trabalhar. Não se levantam quando um adulto chega. Contradizem os pais, apresentam-se em sociedade com enfeitos estranhos. Apressam-se a ir para a mesa e comem com voracidade, cruzam as pernas e tiranizam os seus mestres.”

Poderíamos supor com facilidade que, dadas as mudanças culturais provenientes dos avanços técnicos, trata-se de qualquer jovem de hoje. Entretanto, esse trecho foi atribuído por Platão à Sócrates no século V a.C. Realizamos algum avanço como humanidade em nosso comportamento desde então? Ou só desenvolvemos novos modos de criar os mesmos problemas?

As inteligências artificiais objetivamente não criaram nenhum problema novo no que diz respeito ao ser humano, elas só potencializaram e lançaram novas lentes sobre problemas que de algum modo já havíamos nos deparado. Nosso desafio nesse novo contexto é o de buscar responder a questões já levantadas mas nunca desenvolvidas de forma rigorosa a ponto de representar transformações sociais radicais. Aqui se apresenta então uma das premissas que constituem a origem do pensamento humano, a saber, o esforço contínuo de compreender a si mesmo diante de um mundo em constante mutação, sem jamais resolver definitivamente os dilemas que o atravessam.

A inteligência artificial nesse contexto apenas reformula o cenário em que esses dilemas reaparecem, mas não os dissolve. Se há algo de verdadeiramente humano nesse processo, é o impulso de retomar as mesmas perguntas sob novas formas, e tentar não cair no esquecimento do essencial indicado já pelos gregos: não é o avanço técnico que nos define, mas a maneira como decidimos viver com as ferramentas que criamos. Nesse sentido, o desafio não é acompanhar as máquinas, mas reconhecer, preservar e cultivar o que em nós resiste a ser automatizado, ou seja, o pensamento crítico, a sensibilidade, a ética e a capacidade de fazer da vida uma virtude.
— Árlan Dias Sá
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Sem Contexto, Todo Dado é Ruído

Dados isolados, como a temperatura de 45 °C, não dizem nada sozinhos. Um número é apenas um número — até que alguém o conecte ao contexto certo.

por Felipi Okada, Rafael Boccardi 

Dados isolados, como a temperatura de 45 °C, não dizem nada sozinhos. Um número é apenas um número — até que alguém o conecte ao contexto certo. Para que os dados façam sentido, é preciso mais do que medi-los: é necessário associá-los a informações complementares, contar com pessoas capacitadas para interpretar o que está por trás deles e utilizar instrumentos adequados para captar o fenômeno corretamente.

"Sem contexto, todo dado é ruído" – Charge de Carlos Sekko, 2025.

Por isso, quem trabalha com dados precisa ir além do valor numérico e buscar entender o que ele realmente representa. Essa é a diferença entre repetir números e interpretar seus impactos. Não basta saber a temperatura — é preciso compreender o efeito dela: se está aquecendo o ambiente, se está estragando uma bebida ou se está preocupando um agricultor.

Desenvolver esse olhar crítico e interdisciplinar permite projetar cenários, avaliar riscos, enxergar oportunidades e tomar decisões mais consistentes. Como destaca o nosso Guia da Maturidade Analítica para a era da IA, dado nenhum tem valor real sem contexto. Só quando conectamos o número à realidade ele se torna útil para orientar decisões.

Se você quer entender como uma organização pode se preparar culturalmente para esse desafio — especialmente em um cenário onde a Inteligência Artificial automatiza parte das análises —, o material completo traz caminhos práticos para estruturar equipes, processos e decisões com responsabilidade, contexto e visão crítica.

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IA: O Futuro é Dual, Entre Céu e Caos

No coração da composição, uma entidade híbrida se ergue como a personificação da inteligência artificial, uma figura quase divina que observa impassível a dualidade do futuro. À sua esquerda, um mundo resplandece em luz, onde a tecnologia e a natureza coexistem em equilíbrio, impulsionando progresso e prosperidade. À direita, o caos industrial se impõe com sombras densas, um reflexo de um destino onde a modernidade descontrolada gera desigualdade e degradação. Entre esses extremos, a IA não escolhe lados — ela apenas existe, espelhando as possibilidades e contradições do próprio ser humano.


Nos reunimos presencialmente na Campus Party com um grupo de jovens curiosos, criativos e críticos para discutir o futuro da inteligência artificial. A conversa percorreu diferentes visões, tanto otimistas quanto pessimistas, e girou em torno de uma pergunta essencial: quais caminhos a humanidade pode seguir diante do avanço da IA?

Chegamos a um consenso importante: o futuro não será preto no branco. Ele será feito de coexistência entre progresso e desafios. A IA pode trazer grandes avanços em áreas como saúde, pesquisa e qualidade de vida, mas também carrega riscos como o aumento da desigualdade, a perda de empregos e o uso distorcido do controle tecnológico.

Para representar essa dualidade, criamos uma obra conceitual de forma colaborativa. Utilizamos prompts no GPT e no MidJourney para gerar imagens, explorando diferentes estilos de arte e experimentando composições até encontrar uma que representasse com clareza o conceito discutido.

IA: O Futuro é Dual, Entre Céu e Caos — Erick Eduardo Silva Andrade, Mikhael Machado Fernandes Maia, Naoki Rafael Miura, Sara Candido Fernandes, Takeshi Miura, Victor Hugo Sales dos Reis

No centro da arte, colocamos uma figura híbrida, metade humana, metade máquina — símbolo da inteligência artificial como entidade poderosa e central. À esquerda da figura, um mundo iluminado representa a harmonia entre natureza, tecnologia limpa e sociedade. À direita, um ambiente escuro e industrial ilustra um futuro distópico, marcado por desigualdade, poluição e colapso social.

Essa divisão equilibrada reflete o entendimento coletivo de que luz e sombra coexistem no futuro da IA, e que uma não anula a outra. O impacto da IA não é definido apenas pela tecnologia em si, mas pelas decisões humanas que moldam seu uso.

A mensagem da obra é direta: o futuro será uma teia complexa de benefícios e desafios — e cabe a nós moldá-lo com responsabilidade e ética.

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A Árvore que a Máquina Não Viu Crescer

Entre dragões, florestas e paisagens que parecem saídas de um sonho, o Studio Ghibli construiu mundos que marcaram gerações. Mas em uma era em que as máquinas também começam a sonhar, a pergunta que não quer calar é: o que acontece quando a inteligência artificial tenta replicar a alma de um estúdio como o Ghibli?

por Rafael Boccardi

Cena do filme Meu Amigo Totoro (1988)

Entre dragões, florestas e paisagens que parecem saídas de um sonho, o Studio Ghibli construiu mundos que marcaram gerações. Mas em uma era em que as máquinas também começam a sonhar, a pergunta que não quer calar é: o que acontece quando a inteligência artificial tenta replicar a alma de um estúdio como o Ghibli?

O uso da inteligência artificial generativa na produção de imagens vem reacendendo debates antigos sob uma nova luz: afinal, o que é criação e o que é cópia em tempos de algoritmos?

Não se trata apenas de estética. Trata-se de memória, autoria e ética.

Recentemente, a estética do Studio Ghibli passou a ser replicada por modelos generativos como Midjourney, DALL·E e Stable Diffusion. Basta uma instrução textual simples, como “a landscape in Ghibli style”, e surgem imagens que ecoam a paleta, os traços e as composições dos filmes de Hayao Miyazaki.

Essas imagens, no entanto, não nascem do nada. Os modelos generativos são alimentados por vastos conjuntos de dados, muitas vezes sem consentimento explícito de artistas, estúdios ou autores originais. A obra, nesse contexto, vira matéria-prima invisível de um novo tipo de produção automatizada, onde o conceito de autoria se dilui.

Do ponto de vista jurídico, isso levanta questões sérias. A legislação de direitos autorais protege a originalidade e o vínculo entre criador e obra. Mas como aplicar essa lógica a um modelo que gera imagens baseadas em milhares de obras humanas, mas que não “cria” de forma consciente?

Ainda vivemos uma lacuna legal e ética. A IA não possui intencionalidade ou vivência, portanto não pode ser considerada autora. Porém, os dados usados por ela possuem história, cultura e propriedade.

O Studio Ghibli, conhecido por rejeitar até animações em 3D para preservar a delicadeza do traço manual, agora se vê involuntariamente incorporado a bancos de dados que treinam máquinas a simular sua estética. Isso nos obriga a refletir: estamos prestando homenagem ou apropriando-nos de sua linguagem sem o devido crédito?

Miyazaki Hayao — Co-fundador do Studio Ghibli

Porque uma IA pode replicar um traço. Mas não compreende o peso simbólico de uma árvore que cresce lentamente num campo animado por Miyazaki.

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Seu Gráfico é Enviesado!

“Seu gráfico é enviesado!” não é só briga técnica: revela como visuais podem manipular percepções sem alterar o dado central no mundo dos dados.

por Árlan Sá, Felipi Okada, Rafael Boccardi 

"Seu gráfico é enviesado!" – essa acusação pode parecer apenas uma discussão técnica entre profissionais, mas, na verdade, expõe um problema antigo que ganha novos contornos no universo dos dados: como gráficos e informações visuais podem ser manipulados, ainda que sutilmente, influenciando a percepção das pessoas sem comprometer diretamente a informação principal.

Gráficos são ferramentas poderosas usadas para comunicar análises e insights. Porém, nem sempre a interpretação é neutra, honesta ou objetiva. Por exemplo, dizer que 80% ou 8 a cada 10 pessoas têm uma característica pode significar exatamente a mesma coisa, mas o impacto psicológico dessas formas pode variar consideravelmente para o público. Pequenas manipulações – como alterações inadequadas na escala, seleção parcial dos dados ou formatos visuais tendenciosos – podem facilmente transformar uma análise objetiva em uma narrativa enviesada, conduzindo o público a conclusões equivocadas sem que percebam.

Esses fenômenos ocorrem em diversos contextos, desde a política e publicidade até relatórios financeiros e empresariais. Sempre que dados forem apresentados por alguém com um objetivo específico, há o risco de que a informação seja apresentada ou interpretada de maneira distorcida, mesmo que não intencionalmente. Afinal, a subjetividade humana influencia diretamente a leitura e interpretação da realidade. Duas pessoas bem-intencionadas podem retratar o mesmo fenômeno de maneiras totalmente distintas, obtendo resultados e conclusões diferentes sobre o mesmo público.

Por essa razão, o profissional de dados deve possuir habilidades que vão além da simples construção e organização das informações. Ele precisa refletir, analisar criticamente e compreender profundamente o contexto em que os dados estão inseridos. Quem critica sem analisar pode rotular gráficos como "enviesados" sem considerar adequadamente o contexto técnico e os apontamentos dos outros profissionais. Por outro lado, quem analisa sem uma visão crítica se torna um tecnicista facilmente substituível, replicando números sem questionar a mensagem real por trás deles.

O profissional experiente reconhece que gráficos são mais do que simples representações visuais: são ferramentas poderosas para transmitir conhecimento ou armadilhas bem elaboradas que podem levar ao equívoco.

"Seu gráfico é enviesado!" – Charge de Carlos Sekko, 2025.

No Instituto Cappra, percebemos que esses e outros desafios são comuns em diversas empresas. Por isso, reunimos insights essenciais em uma publicação sobre Visualização de Dados, disponibilizada gratuitamente para consulta didática.

Acesse e confira!
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Visualização de Dados: Fundamentos para Profissionais de Negócios

Fundamentos para profissionais de negócios.

Acesse a pesquisa se você quer transformar números em narrativas impactantes e dominar a arte de traduzir informações complexas em visualizações claras e eficazes.


Em um mundo onde dados estão por toda parte, saber interpretá-los faz toda a diferença. Gráficos, tabelas e dashboards não são apenas representações visuais – são ferramentas estratégicas que podem esclarecer ou confundir, dependendo de como são utilizadas. Para profissionais de negócios, entender a visualização de dados é essencial para comunicar insights, tomar decisões embasadas e evitar armadilhas visuais que distorcem a realidade. Se você quer transformar números em narrativas impactantes e dominar a arte de traduzir informações complexas em visualizações claras e eficazes, você está no lugar certo.

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Quando a Arte Explica a Inteligência Artificial


A exposição Metoním.IA surgiu da vontade de explicar o que é Inteligência Artificial de um jeito acessível e livre das complexidades técnicas. Afinal, a arte é uma linguagem universal, capaz de traduzir até mesmo conceitos mais abstratos sem precisar de definições pesadas ou termos científicos.

Ao unir criatividade e análise de dados, a mostra explora como humanos e máquinas podem se complementar na busca de novas formas de expressão. Em cada obra, encontramos uma ponte entre o que é puramente humano e o que é construído por algoritmos, ampliando nossa compreensão sobre a IA por meio do sensível e do intuitivo.

Confira o documentário completo e deixe-se envolver por essa jornada que traduz inteligência artificial em cores, formas e experiências sensoriais:

Compartilhe conosco o que achou e ajude a expandir ainda mais as fronteiras entre arte e tecnologia. Sua opinião é fundamental para inspirar novas criações e ampliar o potencial criativo desta união entre humanos e máquinas.

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Exposição Virtual Metoním.IA


Nesta exposição, o foco está na relação simbiótica entre a criatividade humana e a inteligência artificial (IA), explorando como a IA atua como uma cocriadora, expandindo os horizontes da expressão artística. A arte, tradicionalmente um reflexo da experiência humana, agora se aventura em novas dimensões de imaginação com o uso da IA. A exposição propõe-se a acompanhar a evolução da arte ao longo do tempo, destacando o surgimento de novas ferramentas, como modelos generativos, e situando esse fenômeno na chamada "Era da IA".

Uma coleção de reflexões do time Cappra, revelando como a inteligência artificial redefine cada aspecto das nossas vidas.

Vivemos em um momento histórico marcado pelo nascimento de uma nova era, onde a Inteligência artificial desempenha um papel central em diversas áreas da vida. A exposição busca não apenas aceitar esse momento como uma obviedade, mas aprofundar a compreensão sobre a natureza, características, potenciais, limites e riscos da IA. Em meio a um mundo saturado por dados e informações fragmentadas, a arte é apresentada como uma aliada valiosa para explorar essas questões complexas, conectando-nos a diferentes nuances e camadas da IA que podem não ser visíveis por meio de fontes tradicionais.

Radar Metoním.IA: visualize todas as obras da exposição.

A exposição também adota o conceito de "metonímia" para explorar a ideia de que o termo "inteligência artificial" serve como uma representação simbólica de todas as partes que a compõem. Desafiando noções preconcebidas e confundindo os limites entre criador e criação, a narrativa da exposição convida os visitantes a contemplar a relação em constante evolução entre a humanidade e a tecnologia.

ACESSE O RADAR METONÍM.IA
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